Infanticídio nos Yanomami
98 crianças vítimas de infanticídio em 2004
Sim, nós temos crianças indígenas morrendo por desnutrição em Roraima. E se a essa causa, for considerado o péssimo hábito das índias ianomâmi de matarem seus filhos, caso o anterior ainda esteja sendo amamentado, os números indicam que estamos diante de uma tragédia.

Segundo o médico Marcos Pelegrini, do Distrito Sanitário Yanomami (DSY), somente no ano passado morreram 104 crianças de zero a nove anos de idade. Dessas, seis perderam a vida por desnutrição e 98 foram mortas pelas mães.

Essa tragédia humana que acontece entre os ianomâmi chama a atenção dentre outras coisas, para dois fatos da maior relevância na política indigenista brasileira, cuja visão integracionista criada por Rondon no Século passado, vem sendo jogada no lixo da história nos últimos anos pelo governo brasileiro, depois da chamada democratização. A primeira constatação é de que os índios brasileiros vêm sendo usados como mero biombo para a defesa de interesses internacionais sobre a Amazônia e a segunda é a de que, o estado brasileiro vem cuidando mal dos indígenas exatamente para que seja criada a convicção de que é incapaz, para desempenhar esse papel.

Quem não se lembra do banzeiro criado pela fotógrafa suíça Cláudia Andujá e sua Comissão Pró-Criação do Parque Yanomami –CCPY, nos anos 80 e 90 do século passado, antes de Collor de Mello criar aquela reserva? O assunto varava o mundo, com ressonância especialmente em fóruns europeus, na OEA e na ONU. Pois bem, criada a imensa reserva na fronteira brasileira/venezuelana, os ianomâmi foram deixados de lado, morrendo a mingua, enquanto Andujá percorre ricos salões europeus e americanos expondo suas fotos valiosíssimas. É claro, depois da reserva ianomâmi que emenda com a São Marcos, o interesse agora é a demarcação da Raposa/Serra do Sol, que juntas cobrem a quase totalidade da linha de fronteira entre Brasil/Venezuela/Guiana. Demarcadas as reservas, o passo seguinte tem sido a forma deliberada dos agentes governamentais brasileiros, principalmente nos governos FHC e de Lula, de se mostrarem absolutamente omissos e incompetentes no apoio às comunidades que lhes são tuteladas, por força da Constituição Federal. Assim, esperam fornecer munição para que se firme internacionalmente a convicção de que o Brasil não sabe cuidar de seus índios e florestas, restando necessária a autodeterminação desses povos, e a administração compartilhada da Amazônia por organismos internacionais, como pediu cinicamente aquele francês, que pretende presidir a Organização Mundial do Comércio. É tudo muito elementar, diria Holmes ao fiel Watson.

35 bebês mortos pela mães
Yanomami na Imprensa
Data: 10 – Março – 2005
Titulo: Infanticídio é uma tradição milenar dos Yanomami
Fonte: Folha de Boa Vista

As índias yanomami mataram 35 bebês indesejados no ano passado, logo após o parto. O infanticídio é a principal causa de morte entre as crianças com menos de um ano. O que pode parecer uma barbárie aos olhos da sociedade não-índia não passa de um traço cultural desse povo, que é considerado o mais “primitivo” do mundo.

O alemão Erwin Frank estuda as populações indígenas da América há 30 anos. Professor da Universidade Federal de Roraima e doutor em Antropologia, ele está há dez anos pesquisando os índios da Amazônia, sobretudo os Yanomami. Em entrevista à Folha, disse ontem que o infanticídio é uma tradição bastante arraigada na cultura Yanomami.“Isso expressa a autonomia da mulher em decidir pela vida ou a morte do filho e funciona como uma forma de seleção para as malformações e para o sexo das crianças”, esclareceu. Segundo ele, a índia se isola do grupo e entra na mata quando sente que vai dar à luz. Ali, sozinha, ela decide o destino do filho por diversas razões, sem a interferência de nenhum outro membro da comunidade, nem mesmo o marido. Ela cava um buraco no chão, coloca algumas folhas e tem o filho de cócoras. Um dos métodos para matar a criança é asfixiá-lo com folhas.

Os estudos do doutor Erwin concluíram que as índias matam os filhos por qualquer malformação da criança ou se o sexo do bebê não corresponde ao esperado. “Os yanonami, principalmente os grupos mais afastados, preferem que o primeiro filho seja homem. Então a mulher comete o infanticídio para não esperar tanto tempo para engravidar novamente”, disse. Isso explica a quase inexistência de malformações congênitas, deformidades e anomalias cromossômicas como a Síndrome de Down entre os Yanomami. Em 2003, por exemplo, o DSY não registrou nenhum caso. Já em 2004, a estatística apontou uma única malformação congênita. Outros estudiosos levantam a hipótese de que a mãe mataria o filho quando ainda tem outra criança de colo, para minimizar seu trabalho pesado, que só pioraria com duas crianças para carregar. O professor ressalta, no entanto, que em geral as índias amamentam os filhos por três anos e meio, período que não voltam a engravidar, mas confirma que até essa idade mãe e filho são inseparáveis. Eles vivem grudados a seu corpo, por uma tipóia. Na opinião do antropólogo, a nossa sociedade não deve perceber o infanticídio como uma barbárie contra criancinhas indefesas. “Esse é o modo de vida deles e não cabe a nós julgá-los com base nos nossos valores. A diferença entre as culturas deve ser respeitada”, defende.

Ele acrescentou que as entidades que prestam serviços aos indígenas também não devem interferir nessa tradição, principalmente porque o infanticídio não prejudica o crescimento populacional. Hoje, a taxa de crescimento demográfico dos yanomami é de 5%. “Os estudos demográficos apontam que o infanticídio tem pouca influência sobre a capacidade das populações se reproduzirem e, no momento, não vejo nenhum perigo de extinção do grupo por causa disso”, ressaltou. O diretor técnico do DSY, Marcos Pelegrini, concorda que o infanticídio não oferece riscos para a população yanomami. “O controle do crescimento populacional pode até ser uma das razões do infanticídio”, comentou.

Segundo ele, o trabalho da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) e das instituições conveniadas não pretende interferir diretamente no infanticídio. “Mas nós já registramos uma demanda para o uso de métodos contraceptivos e esse assunto está sendo tratado com as lideranças das comunidades. Vejo como um programa prioritário, porque é nosso dever oferecer a elas os métodos de planejamento familiar como todo brasileiro tem”. Em 2004, nasceram – e viveram – 688 crianças na área Yanomami, sendo 357 homens e 324 mulheres. (L.G.)

68 crianças vítimas de infanticídio em 2003
Yanomami na Imprensa
Data: 26 – Maio – 2004
Titulo: Conselho Yanomami se reúne para aprovar Plano Distrital de Saúde
Fonte: Brasil Norte

O conselho distrital de saúde indígena Yanomami, Condisi-Yanomami, começou, no auditório do hotel Uiramutã, em Boa Vista, sua V reunião. Os conselheiros deverão aprovar até amanhã o Plano Distrital de Saúde 2003/2004. O quadro de metas e indicadores do plano distrital englobam ações em 15 áreas de atuação: saúde da criança, imunização, vigilância nutricional, saúde da mulher, prevenção e controle de doenças sexualmente transmissíveis, controle da tuberculose, controle de verminoses, controle de endemias (malária, oncocercose, acidente ofídico, leishmaniose, tracoma, tunga penetrans, hepatites, toxoplasmose, mansonelose), prevenção e controle de doenças crônico-degenarativas, saúde bucal, saúde mental, saneamento básico, rede de serviços, sistemas de informação, capacitação de recursos humanos, controle social e educação em saúde.

Áreas de atuação
As áreas de atuação foram definidas através da realização de duas oficinas de trabalho realizadas pelo DSEI-Yanomami. Para a chefa do distrito uma das principais preocupações das equipes de saúde é reduzir o número de infanticídios que elevaram o coeficiente de mortalidade infantil de 39,56 para 121 no ano de 2003, ao todo foram 68 crianças vítimas de infanticídio no ano passado. Os índices esperados para cobertura vacinal no plano distrital prevêem homogeneidade de tetra e triviral de 95%.Outro índice apresentado como meta é a notificação de nenhum caso de doenças imunopreviníveis. Para o programa de saúde da mulher foram definidos índices de acompanhamento de 90% das gestantes com pré-natal e examinar 35% da população alvo do desenvolvimento de câncer de cérvico-uterino. MaláriaA malária foi diagnosticada durante anos pelos serviços de epidemiologia como o agravà a saúde mais preocupante da terra indígena Yanomami. No ano de 2003 não foram registrados óbitos por malária. Reduziu-se o índice parasitário anual, IPA, a 52,12%, em relação a índices que chegaram a alcançar indicadores que ultrapassavam os 200%. Desta forma, foi apresentada meta de manutenção de nenhum óbito por malária e redução do IPA a índices menores que 50%.

A fragmentação de ações e procedimentos foi apontada como um dos problemas nos serviços de recuperação, promoção e prevenção da saúde ofertados na área Yanomami. Estão sendo definidas as metas que prevêem a constituição de protocolos de ação para 100% das rotinas e acompanhamento dos serviços em 100% dos pólos-base. O fortalecimento do controle social também será um dos pontos que os conselheiros estarão debatendo nos dois dias. O objetivo é fortalecer a atuação dos conselhos locais e distrital foram definidas metas que apontam para realização de dois cursos de capacitação de conselheiros e a produção de material didático e documentos gerados pelo Condisi nas línguas dos conselheiros.

Yanomami na Imprensa
Data: 11 – Março – 2005
Titulo: Parabólicas
Fonte: Folha de Boa Vista
Foto: NatGeo