Passamos a manhã de páscoa conversando com a Kamiru Kamayurá, uma dessas heroínas que temos conhecido ultimamente. Enquanto nos lembramos das mulheres que chegaram ao túmulo de Jesus e encontraram-no vazio, ouvimos a história dessa mulher, que abriu um túmulo e conseguiu arrancar com vida um bebê recém-nascido. Isso mesmo, Kamiru desenterrou um nenino que tinha sido rejeitado por sua mãe logo ao nascer….Nascido filho de uma adolescente solteira, Amalé teve seu cordão umbilical cortado bem rente e foi em seguida enterrado vivo. Kamiru ficou escondida na mata esperando as pessoas se afastarem. Depois, com a ajuda de uma tia, desenterrou o menino. Limpou a terra e tentou estancar o sangue, que jorrava sem parar. O menino perdeu muito sangue, estava muito fraquinho e ela pensou que talvez ele não sobrevivesse. Mas mesmo assim se apegou a ele e fez o que pode para mantê-lo vivo. Conseguiu sair com ele da aldeia isolada onde morava, no parque Xingu, e trouxe-o para a cidade, em busca de ajuda médica.

Hoje Amalé já tem dois anos. Ele e sua mãe adotiva passaram a maior parte desses dois anos de hospital em hospital, lutando contra anemia profunda e contra leucemia, aparentemente causadas pela forte hemorragia nas primeiras horas de vida. Cada vez que voltam para o Xingu a saúde do menino fica tão debilitada que eles acabam tendo que voltar para a cidade.

Hoje os cristãos comemoram o milagre da ressurreição de Jesus. Ele saiu do túmulo para garantir vida. Mas apesar disso, ainda nos dias de hoje, muitas crianças precisam ser arrancadas do túmulo por heroínas anônimas. São mulheres corajosas que desafiam tradições em nome da vida. Elas estão espalhadas pelas aldeias desse Brasil, lutando sozinhas. Mas muitas vezes essas heroínas não conseguem garantir a sobrevivência dessas crianças. Junte sua voz à delas.