O ano de 2006 foi um ano de grandes realizações. Graças ao seu envolvimento, conseguimos garantir o tratamento, e com isso a vida das crianças suruwahá Tititu e Iganani, que estavam condenadas à morte. Chegamos ao fim do ano e as famílias suruwahá podem respirar aliviadas, sabendo que suas crianças não precisam ser sacrificadas. Há esperança para elas.

Passamos a conhecer e apoiar outras crianças indígenas que escaparam do infanticídio. Fornecemos cestas básicas e acompanhamento nas consultas de Amalé Kamayurá, o menininho que foi desenterrado ainda com vida no Xingu… Oferecemos apoio jurídico em casos onde a adoção de sobreviventes estava enfrentando dificuldades, como o caso das meninas Harani Suruwahá e da Maitá Yanomami, e o processo de adoção de Maitá finalmente foi concluido! Conhecemos e estamos apoiando meninos gêmeos Kuikuro, que estão sendo adotados pela família de Pajé e Diva Kayabi. Na nossa festa de ano novo da ATINI, multilíngüe e multicultural, vimos a alegria de cada uma dessas crianças na distribuição de brinquedos!

Além do trabalho direto com as crianças, a ATINI avançou também na promoção de reflexão em todo o país sobre o problema do homicídio de crianças indígenas por razões culturais. A voz da ATINI esteve presente no COP8, a Conferência das Partes realizada pela ONU em Curitiba; no Ato Público em Defesa da Vida, na Câmara dos Deputados em Brasília; no Encontro Brasileiro de Direitos Humanos em Curitiba; na Conferência dos Direitos Humanos das Crianças e dos Adolescentes Indígenas – Direito dos Invisíves, eno CONPLEI em Porto Velho; e em eventos culturais como o Atelier Aberto em Curitiba e no Shopping Pátio Brasil, em Brasília. Sem contar as inúmeras palestras em igrejas em várias partes do país.

Uma das maiores conquistas da ATINI em 2006 foi a produção da cartilha “O Direito de Viver”, que já foi distribuída para mais de 50 etnias indígenas. Essa cartilha tem despertado reflexão não só nas aldeias, mas também nos mais diversos meios entre os brancos. Mais de 4 mil exemplares já foram distribuídos, fazendo com essa voz se torne mais e mais ouvida. Já fomos citados duas vezes na revista Ultimato. Estivemos presentes na mídia em programas veiculados pela TV Cultura & Ministério da Justiça, pela TV Record, e também em lugares distantes como Noruega e Holanda. No mês de outubro, mais de 2 mil pessoas foram mobilizadas na campanha pelas “12 horas de silêncio”, veiculada através do nosso site. A Jubilee Campaing, na Holanda, liderou um grande movimento que chamou atenção do governo brasileiro para a questão do infanticídio nas aldeias.

Agradecemos o apoio de cada militante da ATINI. E também agradecemos os deputados federais, assessores parlamentares, líderes indígenas, advogados, médicos, terapeutas, dentistas, artistas, antropólogos, agentes da FUNAI e da FUNASA, o Conselho de Saúde Indígena de Lábrea, a liderança da SIL, os missionários da JOCUM, pastores e tantos outros que lutaram pela vida dessas crianças.

O ano de 2007 começa com novas perspectivas para a ATINI. Desafios, oportunidades e muito trabalho nos esperam. Muitos sorrisos, mãos estendidas, crianças escapando da morte certa, mães e pais respirando aliviados… é para isso que trabalhamos e lutamos. Queremos que o direito à vida seja garantido a mais e mais crianças indígenas nesse novo ano. Vamos trabalhar juntos para que a realidade, que aponta para mais de 100 crianças indígenas sacrificadas por ano nas aldeias, seja transformada. Para que saúde, educação, dignidade e cidadania sejam direitos conquistados por cada povo indígena de nossa nação. Continuem conosco em 2007. Vamos continuar fazendo diferença. Vamos continuar salvando crianças da morte.

Marcia Suzuki
Conselho Deliberativo