A indígena Muwaji Suruwahá, atendida pela ATINI, recebeu uma visita inesperada nesta semana – uma comitiva formada por antropólogos e agentes do CIMI e da FUNAI, que chegaram em dois carros na chácara da ATINI em Brasília.

O objetivo da comitiva era mostrar um vídeo gravado na aldeia suruwahá, no interior do Amazonas, no qual dois parentes pediam o retorno de Muwaji e de sua família. A pressão emocional foi grande, mas Muwaji permaneceu firme em seu propósito. Depois de assistir a filmagem e ouvir os argumentos da equipe, Muwaji respondeu simplesmente:

“Eu não vou voltar, vou ficar em Brasília. Minha filha não anda ainda, vocês não estão vendo? Se a FUNAI me levar de volta, minha tristeza vai ser tão grande que eu vou tomar veneno. Eu vou ficar aqui e as crianças vão ficar aqui comigo – são minha família e eu cuido delas.”

Muwaji é uma mulher decidida. Nascida na tribo suruwahá, no interior do Amazonas, ficou viúva ainda muito jovem. Mãe de Ahuhari e da menina Iganani, aprendeu cedo a lutar pelo que quer.

Quando sua filha Iganani começou a apresentar problemas de desenvolvimento motor, Muwaji decidiu ir contra a tradição e manter viva a menina. Decidiu sair da aldeia num helicóptero da FUNASA para buscar ajuda na “medicina dos brancos”. Logo descobriu que sua filha sofria de paralisia cerebral, uma doença grave, e que talvez nunca aprendesse a andar.

Muwaji conhece bem a tradição do seu povo e as condições de vida na sua comunidade. Sabe sabe que não conseguiria garantir a integridade física nem a dignidade de sua filha estando dentro da aldeia. Por isso decidiu ficar em Brasília por tempo indeterminado e lutar por tratamento médico para ela. Muwaji já mora em Brasília há 3 anos e Iganani é atendida pelo Hospital Sarah, onde é acompanhada por uma equipe de pediatras, psicólogos e fisioterapeutas. Além de Iganani, Muwaji cuida também de seu filho Ahuhari e de sua sobrinha órfã Inikiru. Inikiru perdeu o pai e a mãe, e foi adotada por Muwaji.

As três crianças estão saudáveis e felizes, frequentam a escola e praticam atividades de lazer. Conversam entre si na língua suruwahá e procuram manter a cultura e a identidade indígena, mesmo morando longe da aldeia. Muwaji tem orgulho de ser suruwahá e planeja um dia voltar. Segura, ela concluiu a reunião de forma taxativa:

“Quando eu quiser visitar meus parentes na aldeia, eu mesma procuro vocês. É só isso que tenho a dizer.”